Vou repetir um texto que usei num Cafezinho lá em 2017, num Brasil que não existe mais. Vira e mexe eu preciso repetir este texto. Larry Flynt era o editor norte-americano da Hustler, revista masculina que nos anos 70 ficou célebre pelos excessos na linguagem pornográfica e mal educada. A Hustler rendeu a Larry Flynt muita dor de cabeça na justiça, culminando em 1978 num atentado que o deixou paraplégico. Alan Isaacman, advogado de Flint, defendeu-o no julgamento assim: “Estamos discutindo uma questão de gosto, não de Lei. E é inútil discutir gosto – muito menos nos tribunais. (…) Na verdade, tudo o que esta discussão faz é permitir a punição de discursos impopulares (…) – e estes são vitais para a saúde da nação. Não estou tentando convencê-los de que deveriam gostar do que Larry Flynt faz. Eu não gosto do que ele faz. Mas o que eu gosto é de viver num país onde você e eu podemos tomar esta decisão por nós mesmos. Eu gosto de viver num país no qual eu possa pegar a revista Hustler, lê-la se quiser ou atirá-la no lixo se acho que ali é seu lugar. Ou não comprá-la. Gosto de ter esse direito, me importo com ele. E vocês deveriam se importar com ele também, porque vivemos num país livre. Dizemos muito isso, mas às vezes nos esquecemos do que significa. Vivemos num país livre. Esta é uma ideia poderosa, é um jeito maravilhoso de se viver. Mas há um preço para esta liberdade, que é, às vezes, ter que tolerar coisas das quais não gostamos necessariamente. Se começarmos a cercar com paredes aquilo que alguns de nós julgam como sendo obsceno, acordaremos um dia e perceberemos que surgiram paredes em lugares que jamais esperaríamos que surgissem. E aí não poderemos ver ou fazer nada. E isto não é liberdade”. Pois é… Conviver com quem pensa diferente é o grande teste para um democrata, mas isso é difícil, sabe? A gente se irrita e rapidamente começa a arquitetar formas de se livrar do pentelho. E esse conceito de “se livrar” é muito abrangente, vai de um fingir que concorda só para ele parar de encher o saco ou invadir a sala de aula para impedir o professor de falar, até um “deletar”, que pode ser virtual ou real… Primeiro você deleta a liberdade de seu inimigo. Em seguida, alguém deleta a sua. Azar nosso. Esta reflexão continua no vídeo.
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