Por muitos anos fomos silenciosamente contaminados por um discurso que prega o relativismo absoluto, uma contradição em termos. Afinal, o relativo não pode ser absoluto, não é? Mas peço licença para usar essa contradição, pois não encontro outra forma de definir estes tempos, a não ser como de relativismo absoluto. Tudo passou a ser relativo, em todas as instâncias. Já não sei se um indivíduo é homem ou mulher. Não sei se um bandido é mau ou apenas vítima das circunstâncias. Não sei se alguém que faz uma benevolência é uma alma boa ou um oportunista. Não sei nem mesmo se um artista que faz músicas horríveis é bom ou ruim. Tudo depende. E o simples fato de eu levantar essa questão, de dizer “não sei”, já me coloca na alça de mira dos relativistas absolutos. Provavelmente vou apanhar à direita, à esquerda, acima e abaixo. O relativismo absoluto incorpora uma tolerância cínica para com a ignorância. Ele nivela um técnico com 40 anos de estudo a um semiadolescente dono de canal no Youtube. Nivela um gênio da música a um emissor de ruídos ininteligíveis. Transforma o belo em mera questão de opinião. O relativismo absoluto faz com que fatos sejam menos importantes do que o que as pessoas sentem sobre os fatos. E quando temos uma opinião diferente do que o outro sente, imediatamente somos considerados agressivos, ofensivos e intolerantes. Danem-se os fatos, ferimos o sentimento do outro. Por isso a busca pela verdade e as ideias corretas por meio do debate honesto e respeitoso e da argumentação rigorosa, que é uma tarefa nobre, nunca foi tão difícil. Até mesmo impossível. Se eu não for forte, seguro e consciente de minha individualidade, vou acabar abrindo mão da busca pela qualidade, pelo belo, pelo resultado. Só para não ferir os sentimentos do jovem esperto. Isso vai dar merda. Versão no Youtube:
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