No livro The Said and The Unsaid (O Dito e o Não-Dito), Stephen A. Tyler escreveu: “Alguns objetos de nosso mundo são aparentemente não problemáticos – mesas, cadeiras e coisas semelhantes – enquanto outros, tais como pensamentos, imagens, memórias e dores, tem um status de objeto peculiar (..) embora não tenham nenhuma representação externa na percepção sensorial, falamos sobre eles como se não diferissem nada de mesas e cadeiras que, como todos sabem, podem ser percebidas pelos sentidos. Posso dizer que ‘eu tenho um pensamento’ do mesmo modo que diria ‘eu tenho duas pernas’, como se o pensamento e as pernas fossem objetos da mesma natureza. O problema é que nossa linguagem parece mentir a nós mesmos, pois ‘ter pensamentos’ não pode ser verificado ou descrito do mesmo modo que ‘ter pernas’; as pernas e os pensamentos não são objetos da mesma realidade. A linguagem trata pensamentos e pernas como se ambos tivessem extensão no espaço, como se fossem ambos substâncias.” Pois é. Aí me lembrei de nosso Poeta João Cabral de Melo Neto: "As palavras pedra ou faca ou maçã, palavras concretas, são bem mais fortes, poeticamente, do que tristeza, melancolia ou saudade. Mas é impossível não expressar a subjetividade. Então, a obrigação do poeta é expressar a subjetividade, mas não diretamente. Ele não tem que dizer ‘eu estou triste’. Ele tem é que encontrar uma imagem que dê ideia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do eu estou triste." Então matei uma charada que há tempos me incomodava. Lembra daqueles advogados dos tempos de Lava Jato que diligentemente apresentavam recursos e mais recursos insistindo que não existia a materialidade das provas? Fazem assim até hoje. Eu não entendia como funcionava o pensamento deles, mas agora, depois de ler Stephen Tyler e João Cabral de Melo Neto, penso que não são necessariamente desonestos, parte da quadrilha ou mal-intencionados. São simplesmente poetas da corrupção. Isca: Preste atenção no que não é dito. No Youtube:
https://youtu.be/Zgrxf0wOx3g Gostou? De onde veio este, tem muito, mas muito mais. Acesse
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